sábado, 26 de janeiro de 2013

Módulo "O Despertar da Vida Espiritual" - Texto "A Vida Espiritual" de Radha Burnier apresentado na Loja Perseverança, no dia 24 de janeiro por Ana Cristina Moura

A VIDA ESPIRITUAL
Radha Burnier (Presidenta Internacional da Sociedade Teosófica ).

 "Espiritual" é uma daquelas palavras como "amor", "Deus", "bem", as quais, não correspondendo a objetos concretos, significam coisas diferentes para pessoas diferentes. A palavra "bem", por exemplo, seria interpretada num sentido estreito ou universal por aqueles que experimentaram a bondade num nível superficial ou profundo. A palavra "espiritual" pode, similarmente, significar muito ou pouco, ou nada absolutamente. Cada pessoa que está interessada na vida espiritual deveria descobrir se ela corresponde a algo que existe dentro de sí própria ou se é meramente uma palavra usada por outros e, portanto, no que lhe diz respeito, um mero conceito, uma noção teórica que não está baseada no conhecimento pessoal. Por outro lado, cada um de nós pode pretender que a palavra "amor" tem uma base no relacionamento pessoal, pois todos nós experimentamos o amor de uma forma ou de outra. Nossa experiência pode ser limitada, diluída, intermitente, mas o que quer que seja ela, serve para dar-nos uma vaga noção de um amor diferente, maior.
Para a maioria de nós a palavra "espiritual" é como a palavra "Deus" - uma palavra que pode cobrir numerosas contradições e ilusões; uma expressão que podemos interpretar de acordo com nossos próprios desejos e inclinações ocultos. Uma pessoa está perturbada por sérios e persistentes problemas; está sozinha ou fracassada. Estando ela oprimida e desiludida, volta-se, para alívio, ao dito espiritual. Uma vez que ela tivesse sido bem sucedida no mundo material, não teria buscado nenhum outro caminho, o seu aparente desejo pelo espiritual é meramente um escape e a palavra lhe comunicará uma ansiada mudança das experiências terrenas.
Existem outros que estão condicionados a gastar alguma parte do dia em atividades religiosas, que lhes é dito trarão benefícios espirituais. Assim, milhões de Hindús, Budistas, Cristãos e outros, repetem orações e tomam parte em adorações com pouco pensamento ou pequena atenção dados aos seu significado interior. Esse é o molde preparado para eles pela sociedade na qual vivem e cai prontamente neles; em outras circunstâncias eles naturalmente adequar-se-iam a algum outro molde. Por isso, não estão realmente voltando-se para o espiritual; estão conformando-se ao que é mais fácil e fazendo aquilo que deles é esperado.
A busca do espiritual também pode ser um seguro contra possíveis desgostos no outro mundo, e nesse caso ela é uma expressão de medo latente. Assim, pode ser uma forma de "investimento", uma precaução do homem de negócios contra tempos difíceis; quanto mais ele peca e indulge a si mesmo nesta vida, mais necessidade sente de preparar um caminho seguro no outro mundo. Cada um, portanto, que deseja viver a vida espiritual deve testar a si mesmo e examinar seus motivos. Estes tentarão dissimular, pois não gostam de ser trazidos à luz. Mas se o aspirante se permite ser iludido, não encontrará a iluminação que busca. Assim, deve examinar a si mesmo para ver se realmente deseja seguir o que é espiritual, ou se está buscando um escape, uma confortável conformidade ou segurança futura. Quando a busca do espiritual é irreal, somente uma parte da vida da pessoa é dedicada a ela. Essa parte está somente na superfície e então ela age no nível superficial e está preocupada somente com atividades externas que gosta de chamar de espirituais. Ou ela pode devotar um pequeno compartimento em sua vida a certas práticas, o resto dela sendo entregue a totalmente diferentes ocupações do mundo. Dessa forma, ela pode ir à igreja, ao templo, envolver-se em orações rotineiras e tentar uns poucos momentos de meditação, enquanto que a maior parte de sua vida permanece desvinculada dessas ocupações e não influenciadas por elas.
A busca pelo espiritual não deve ser compartimentai, mas com todo o coração; não um auto-interesse pessoal, mas uma busca não pessoal e, contudo, ávida. Em "Aos Pés do Mestre", é dito:
"De todas as qualificações o Amor é o mais importante, pois se ele é suficientemente forte num homem, força-o a adquirir o resto, e todo o resto sem ele nunca seria suficiente. Freqüentemente é traduzido como um intenso desejo de liberação da roda de nascimentos e mortes e de união com Deus. Mas colocá-lo desta maneira soa egoisticamente e dá somente uma parte do significado. Não é tanto desejo, mas vontade, resolução, determinação. Para produzir seu resultado, essa resolução deve encher toda a sua natureza, como que para não deixar lugar para nenhum outro sentimento. E, na realidade, a vontade de ser uno com Deus, não a fim de que possa escapar do aborrecimento e do sofrimento, mas a fim de que, devido o seu profundo amor por Ele, possa agir com Ele e como Ele age. Porque Ele é amor e você, se quiser tornar-se uno com Ele, deve estar cheio do perfeito inegoismo e do amor também."
Notem-se as palavras: "Essa resolução deve encher toda a sua natureza, como que para não deixar lugar para nenhum outro sentimento."
A vida do Buda é um exemplo inspirador de resolução de encontrar a iluminação, originando-se da compaixão pela sorte do homem. Ele viu um mundo triste, afligido pela doença e pela morte, pelo declínio e sofrimento, crueldade e ignorância e sentiu uma pena tão grande por ele, que em seu nome, buscou a luz que traria ao mundo libertação.
Dessa forma, a resolução para descobrir a luz espiritual deve iniciar com uma profunda preocupação pelos outros e um genuíno desejo pelo bem de todos, não como um novo modo de auto-promoção ou façanha. 0 buscador não deve ser indiferente ao mundo ou dele afastar-se por desgosto, como muitos monges e ascetas fizeram, nem deve ser engolfado por ele. Os sofrimentos do mundo são também seus - os sofrimentos causados pelo ódio e pela crueldade, competição, luta, solidão, inveja e ambição. Milhões de pessoas têm vivido assim por idades incontáveis, brigando por terras, dinheiro, posses, fama e poder. Mas são essas coisas dignas de se possuir? Qual é a causa cia ambição e do ódio? porque há solidão? Qual é o significado da vida? Estas e muitas outras perguntas surgem da própria observação que o investi fiador faz acerca da vida; nem o questionamento, nem a busca, devem estar baseados em considerações superficiais ou na opinião de outras pessoas. A clareza, que é a luz do discernimento, surge quando a pessoa se dá ao trabalho de estudar profundamente a vida por si mesma. Isso marca o começo da vida espiritual. Deve haver clareza de percepção a fim de distinguir o que é essencial. A clareza torna possível ver que a causa-raiz de nossos problemas é o egoísmo. Se há violência, se pode ver sua fonte em cada ser humano. A pessoa deve mover-se do não-importante para o básico, do fato superficial ao ponto fundamental.
Somente quando há clareza junto com uma profunda consideração pelo bem de todos os homens é que a busca está começada. Descobrir o que é espiritual é, em si mesmo, viver a vida espiritual. Pois as grandes verdades da vida não são fatos externos, mas dimensões de consciência. Harmonia, amor, bondade e paz não pedem ser conhecidos como se conhece um carro ou pedra - objetos cuja forma, cor, textura e outras características podem ser percebidas e retidas na memória. 0 amor não é um tal objeto fora da própria pessoa. Ele deve estar na sua própria natureza, pois o único modo de conhecer o amor é sentir amor, estar amando.
Para conhecer o que é espiritual, deve haver o espiritual dentro de si mesmo. A vida espiritual, portanto, não consiste em fazer várias coisas, mas em produzir um transformação interna, um certo estado interior. Chega-se a conhecer o que é esse estado ao compreender a sí mesmo, o que significa observar o que está acontecendo dentro. Pela observação, a pessoa deve purificar sua natureza de tudo o que pertence à vida material ou mundana, vê-la pelo que ela é e rejeitá-la A vida mundana não consiste de contatos físicos ou mentais com coisas materiais. A matéria está em toda a parte e não é possível dela escapar. Essencialmente, portanto, a vida mundana não é mero contato com a matéria, mas uma atitude de posse. Há uma grande diferença entre ó relacionamento que temos com objetos, pessoas, idéias, quando há o ímpeto de posse e quando não há. Na verdade, um relacionamento possessivo não é um verdadeiro relacionamento, porque uma vez que a mente possessiva é incapaz de perceber uma verdadeira significação, o valor intrínseco de uma coisa é perdido de vista. A avidez da aquisição e posse deve ser inteiramente erradicada se formos viajar do mundano para o espiritual. A mente deve aprender a não apegar-se, quer seja a objetos concretos ou mentais, ou ainda espirituais; e a não-posse deve ser total - interna e externa.
A vida material ou mundana também toma a forma de imposição da vontade de uma pessoa sobre outros. Envolve o sentimento de que suas próprias idéias e interesses devem prevalecer e a que circunstâncias, pessoas e coisas devem submeter-se, e a serem moldadas por eles. Quando frustrado, esse desejo profundamente arraigado pelo poder torna-se em violência e assim o mundo está cheio de violência em maior ou menor grau - não somente a violência da guerra, assassinato ou dano à vida, mas violência na forma de dominação de uma esposa, marido ou criança, a violência de palavras mordazes e fala grosseira. A ausência de violência, o que significa não ter senso de poder sobre outros ou desejo de dominar, é encontrada na estrada que leva para longe da mundanidade.
Cada um está procurando todo o tempo ver como o mundo pode ser feito para satisfazer a si mesmo. A pessoa exige que ele deve oferecer-lhe divertimento, segurança, satisfação permanente, afeição e reconhecimento. É requerida íntima e imparcial observação para ver que isso é parte da própria psicologia da pessoa. Transcender a vida mundana significa estar internamente livre de exigências, estar contente com o que vem sem ser esperado, alegria ou dor. Pedir e estar satisfeito em ter aquilo que é pedido, é o caminho do mundo. Não pedir nada, quer seja karma, ou Deus, de outras pessoas, e permanecer contente com o que quer que seja é sinal de uma natureza não mundana. Quando podemos aceitar-nos a nós mesmos, as circunstâncias, pessoas e coisas como elas são, sem exigir que sejam diferentes, não há necessidade de pretensão, pretexto ou auto-ilusão. "Nunca desejes brilhar ou parecer inteligente..."diz Aos Pés do Mestre, pois parecer outro em vez do que se é, é uma ilusão de vida mundana. Aquele que quer rejeitar a vida mundana, deve incorporar a verdade em todo o pensamento, palavra e ação. Uma forma de falsidade, na qual a mente pode ser enleada, é a confusão de um fato com o reflexo desse fato na mente. 0 reflexo pode tornar-se tão forte, que a coisa que é refletida recua para o fundo e a imagem é tomada erradamente pelo original. As memórias das coisas velam a percepção daquilo que está diante dos olhos. 0 vício em sexo, álcool, comida e outros prazeres sensórios têm nascimento na memória que constantemente rumina sobre eles. Indulgência, vício, hábito, impulsos mecânicos, são todos parte do mundo material.
Quando o coração e a mente renunciaram à violência, falsidade e indulgência, o mundano e o material não mais existem. Há um estado de pureza e de simplicidade no qual o não-material, o não-mundano, e espiritual podem ser conhecidos. Os cinco preceitos do Budismo, as instruções sobre Ioga, os mandamentos cristãos e outros verdadeiros indicadores, antigos e modernos, do caminho espiritual, todos indicam a mesma coisa que é a renúncia. A verdadeira renúncia não é um simples ato dramático. É o limpar diário dos pensamentos, motivos e memórias que são do mundo - os pequenos desejos de disfarçar os impulsos rudes, os pequenos apegos, o recordar e a lembrança do prazer, e assim por diante. Renunciar a tudo isso é estar livre do eu. É o apego, a memória, que criam a ilusão de que se é um eu separado com seus próprios propósitos para promover. Quando a mente é limpa de seu conteúdo psicológico, não há mais qualquer sentimento de separatividade ou do eu. O conteúdo psicológico é composto tanto de memórias conscientes, como inconscientes, as tendências que têm sido construídas por muitas experiências e pelo profundo instinto de proteger-se. É o apego que é responsável por esse conteúdo. É a "cerca" que a pessoa erigiu em torno de certas experiências e que ela chama "eu". Se o nome "eu" não é dado a um conjunto particular de experiências, não há "eu" no sentido psicológico.
Portanto, para encontrar o espiritual, se tem de renunciar à autodescrição: sou americano, um europeu, sou branco, moreno, cristão, hindú, etc. Estas são as distinções baseadas na raça, credo, sexo, casta e cor que a Sociedade Teosófica busca remover. Ainda há outras: sou rico, pobre, inteligente, esperto, um buscador da verdade. Mas todo nome que a pessoa dá a si mesma, é a identificação de si mesma com o "eu". Por isso, o Bhagavad Gita ensina que quando um homem nem pensa nem sente, externamente ou dentro do subconsciente, "eu gosto" ou "eu sou o que gosta", "eu faço ou eu sou o fazedor", ele é livre. Pode continuar a agir, mas a ação não é identificada e designada como o "eu". Assim, a mente está livre de tudo que a separa e a coloca à parte do resto da vida. A renúncia da experiência auto-suficiente é o começo de uma nova vida - a vida espiritual.
Quando o apego às coisas materiais e á experiência foi completamente varrido, a gente está pura como o espelho sem pó que pode refletir a verdade. A verdade da vida está em toda a parte. É inerente à consciência que se manifesta através da vida e nas coisas aparentemente inanimadas. A vida não concede a verdade quando a pessoa tenta impor-se, exigir, apoderar-se e possuir. A vida é divindade e deve ser aproximada com humildade e reverência. Então todos os seus mistérios serão revelados e a verdade tomará o aspirante em seus braços.
Traduzido por Pedro R. M. de Oliveira
Da  Loja "Dharma", de Porto Alegre.
Texto original obtido do The Theosophist, fev. 83.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

LOJA PERSEVERANÇA - PROGRAMAÇÃO DO MÊS DE JANEIRO DE 2013

LOJA PERSEVERANÇA – Às 5as. feiras – stlojaperseveranca@gmail.com http://loja-perseveranca.blogspot.com
Início das atividades: A partir da segunda quinta-feira do mês de janeiro de 2013.

Às 14h – Os seguintes estudos:
10 e 24 – Estudo de textos de Krishnamurti.
17 e 31 – Estudos em grupo de "Ísis sem Véu", vol. I.

Às 15h – Estudo do livro "Yoga – A Arte da Integração" de Rohit Metha

Às 17h – Os seguintes estudos:
10 e 24 – Estudo do livro "Um Estudo sobre a Consciência, Uma Contribuição à Psicologia", de Annie Besant [Kleber e Lucy].
17 e 31 – Estudo: ‘Bhagavad-Gita’ por Glória Arieira [Denise Haikal].

Às 18h – Os seguintes estudos:
10 e 17 – "A Doutrina Secreta", vol. II [Francisco Araujo]
24 - "O Despertar da Vida Espiritual" [Ana Cristina Moura].
31 – "Ciência e Teosofia" [Laura Nessimian e Jandir Passos].